Viro a esquina e vejo que a padaria de costume embadeirou-se da noite para o dia. Em cada cruzamento, os habituais vendedores de bala passaram a oferecer bonés, fitinhas e camisetas do Brasil. Nas calçadas , a população veste uniforme.Cruzo com Ronaldinho Gaúcho onde quer que eu passe.
Sinto-me um labirinto de espelhos. Nenhum reflete o meu rosto, mas pouco importa. Sai de campo o PCC, entra a seleção. O paralelo não é tão gratuito quanto parece.Mais do que em eventos como a Virada Cultural e a maratona que ocupou as ruas de São Paulo no último domingo, trata-se de uma conquista do território.
Se andar pela cidade continua tão perigoso como antes, a simbologia verde e amarela nos muros e no asfalto vem substituir virtualmente a presença física dos cidadãos que, com prudência, se fecham dentro de casa para assistir ao noticiário esportivo na TV. Claro, o fenômeno se repete em toda Copa do Mundo, mas a febre agora me parece maior. É também maior, sem dúvida, o favoritismo da seleção.
Mas o que com certeza cresceu de quatro anos pra cá é o consumo popular:camisetas, tinta e bandeirinhas ficaram mais em conta.
Não sou economista, mas acho que, além da categorias dos “bens duráveis” (automóveis, geladeiras) e “não-duráveis”, deve haver uma terceira, a dos bens “nada duráveis”, vendidos nas lojinhas de um real e nas bancas de camelô: brinquedinhos chineses que quebram em menos de um dia, canetas luminosas que não funcionam, óculos escuros com armação feitas de chicletes ressecado, suportes de celular montados a partir de espirais de cadernos escolar jogado fora...
Aliás, nem sei se usam cadernos nas escolas da rede pública. Só sei que certa vez entrei numa dessas lojas de bobagens e acabei levando um produto que me pareceu útil:uma luminariazinha portátil, com lâmpada minúscula, numa armação que dobrava em três, acoplada em uma espécie de pregador de roupa.(comprei duas uma pra mim e outra para um amigo) ela serviria, em tese, para você prender um livro e ficar lendo de madrugada, sem perturbar quem estiver dormindo ao meu lado. Custou cinco reais e durou dois dias.
Não fiquei frustrada : a coisa era bonitinha e tive o prazer de optar, no momento da aquisição, entre o modelo verde, roxo, azul e prata. Uma necessidade minha foi atendida: não a de ler de madrugada, mas a e consumir alguma coisa. Ainda nesse gênero de produtos, ia falar nas fitinhas do Bonfim. Mas seria um erro: ela é a coisa mais durável que existe, e até seria boa idéia fabricá-las bem frágeis, para que nossos desejos fossem realizados mais depressa. Mas, nesse caso, santo Expedito resolve.
Esqueci-me também dos relógios de dez reais e dos walkmen mais baratos ainda. O fato é que, com quase nada no bolso, o cidadão pode consumir como nunca antes; natural que, neste mês, retribua essa alegria cobrindo-se com as cores do Brasil.
Quanto aos bens duráveis, torna-se até justo, nesse quadro, que sejam pagos em prestações a perder de vista pois os juros estão mais baixos do que na última Copa, os aparelhos de DVD e os computadores baratearam muitíssimo e a recompensa de possuí-los hoje não deixa de justificar um endividamento eterno.
Nem falo dos cartões de crédito, cuja popularização se tornou, provavelmente, um dos motores da economia e fontes de dramas pessoais comparáveis aos dos jogos legalizado.
Mas agora meus queridos o que nos restas??
Somente lembrar a antiga marchinha da Copa- “Todos unidos num só coração”.
Bem e isso ai .
4 comentários:
É TIA MÍ... O NEGÓCIO ESTÁ MUITO BOM HEIN??? CADA VEZ GASTANDO MAIS VOCÁBULÁRIO...
O TEXTO FICOU... SEM PALAVRAS... ESTÁ ÓTEMO (COMO DIZ A CECÍLIA)
PARABÉNS... SEMPRE!
Olha ...essa é a minha amiga, escrevendo sempre muito bem...é verdade, acredito que o favoritismo está bem maior,perto da onde trabalho tem restaurantes que já aderiram ao telao para assistir aos jogos sa Copa. Com certeza será sensacional....
ps: Mi, desculpe, hoje estava meio corrido nem deu para falar direito com vc....Bjus, boa noite até amanhã .
Lyne - A Magrella
Hoje o Ronaldinho Gaúcho disse em uma entrevista que uma boa atuação da seleção pode ajudar a amenizar o sofrimento do povo brasileiro. O cara ganha milhões e quer ajudar o povo brasileiro com bons dribles na Copa?
É, quando olho meu holerite de R$ 666 fico muito revoltado também, ehAehAHehhh
Sobre os R$ 1,99s, uma vez eu comprei um walkman. 3 reais, juro. Várias cores também, escolhi roxo. Quebrou. Em menos de 30 minutos. ehAHehAehHAEHAHehahehehEHAHEh
Muito legal o texto!!
Beijooo!
Parabéns!
Pow muito legal a filosofia!
Um abração!
Tá excelente!
T+!
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