sexta-feira, março 17, 2006

MENTIRAS SINCERAS

Ser sincero não é fácil!
Talvez a maioria dos relacionamentos amorosos adoeça e morra por conta disto: não porque o parceiro deixou crescer uma barriga displicente nem porque nos estaríamos cansado da mesmice e a fim de novidades, mas sim porque, perdemos a generosidade. A generosidade é ou, melhor, deveria ser o próprio do amor. Ela está sempre presente, aliás isso acontece quando a gente se apaixona.
O amor que nasce idealiza o amado, mas essa idealização é contemplativa, não é normativa. Ou seja, pedimos eventualmente, que o amado ou a amada estejam perto de nós, mas não que mudem e ainda menos que renunciem a serem quem eles são.
Claro, enxergamos neles algo que podem não ser e assim falamos:
Querido (a) seja como você é, pois é assim que descubro em você tudo o que quero, mesmo que talvez você não seja nada disso. Em suma, o amor, inicialmente, é respeitoso. Se você não é bem o que vejo em você, o engano é meu e o problema será somente meu. Amar consiste em querer e saber continuar se enganado.(será??)
As coisas mudam quando começamos a medir a distância entre o ser amado e o ideal que lhe penduramos nas costas. De repente, o engano nos parece ser uma artimanha do outro; é ele que deveria se emendar para voltar a ser o ideal que inspirava nosso amor.
O encanto do começo se transforma, em uma lista inesgotável de pequenas e grandes exigências. Tudo o que pedimos ao ser amado e que ele ganhe mais, que seja simpático com nossos amigos,que nos acolha com um sorriso, que pare de roncar no nosso ouvido, que leia um bom livro, que não caminhe na nossa frente na rua, que esteja em casa na hora certa mas isso é apenas um derivativo. O que queremos é a volta do que nós mesmo perdemos: o encanto pelo qual enxergávamos nosso ideal no ser amado. Esse encanto impunha o respeito, ou seja, permitia que deixássemos o amado e a amada serem, simplesmente, eles mesmos.
A lição é: que o amor, quando não é atravessado e deformado pelas piores exigências neuróticas e narcisistas, confere ao amante um dever para com o amado, mas nenhum direito sobre ele.
Eu li em algum lugar que o maior sinal de amor é (ou deveria ser) o dom do que a gente não tem. Algo assim: “Ofereço-lhe o que não tenho e que você não quer e não me pede .” Seja qual for nossa interpretação ela é certamente o oposto da miséria amorosa ordinária, em que amar significa pedir ao outro o que a gente quer. Ou, pior ainda, pedir-lhe aquela “coisa” de que a gente precisa.

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